terça-feira, fevereiro 22

Sonoridades

Naquele Natal pedi um rádio ao meu pai. Ele fez-me a vontade. Poucas pessoas na aldeia tinham uma aparelhagem com leito de CDs ou sequer sabiam o que isso era.
O meu pai acatou o meu pedido e ofereceu-me justamente um rádio branco com um deck de cassetes. Eu andava com aquilo para todo o lado. Fazia gravações toscas de músicas que eu gostava e que passavam na rádio. Confesso que ainda telefonei uma ou duas vezes para um daqueles programas de "discos pedidos" só para passarem a música para eu a gravar. Guardo numa caixinha algumas dessas cassetes. Até pareço uma velha a falar, mas de facto numa altura em que se fala já de CDs que também já são DVDs (o que diga-se nos fará poupar uma pipa de massa, ou tralvez não), o tempo das cassetes parece uma coisa de outro século.
Lembro-me que o meu primo Carlitos, que hoje de "litos" já tem pouco ou nada, ouvia muito Bryan Adams, Roxete, Aerosmith, Police. E eu ouvia o que ele ouvia e não sabia se gostava porque era isso que passava no meu rádio branco,era isso e pouco mais. Um dia a remexer nas coisas antigas do meu pai descobri que tinha (e ainda tem porque faço questão em preservar) uma colecção de discos de vinil incrivel. Quando comecei a ter faro para a descoberta comecei a perceber como é que o velho giradiscos funcionava. Era confuso para mim como é que uma agulha e um prato preto poderia tocar coisas tão bonitas. Da colecção fazem parte alguns nomes que me recuso a mencionar, e outros como os Beatles, Daddy Cool, ABBA enfim...uma parafernália de sonoridades que só muito mais tarde vim a perceber a história. O meu pai insistia em dizer que já nao se fazia musica como antigamente e eu acreditava, claro.
Quando olho para trás, hoje penso se não será mesmo razão. Porque hoje os grupos que aparecem, desaparecem do modo como chegaram, num ápice. Fixamos uma ou outra musica, cantarolamos aquilo durante uns tempos e depois esquecemos...
Há uma altura na nossa vida em que começamos a absorver influências como uma esponja. E de repente começamos a ouvir o que os nossos amigos ouvem, até encontrarmos uma sonoridade que realmente nos agrade...Não posso dizer que tenha assim um estilo musical de que goste. Mas eu também sou suspeita para falar. Simplesmente não consigo decidir entre azul e amarelo, doce ou amargo, praia ou campo, enfim... E por isso mesmo continuo a ouvir um pouco de tudo. Não sei se isso será bom ou mau, mas foi assim que tudo começou é provavelmente será assim até... o giradiscos ainda está la arrumado com o rádio e as cassetes. Um dia os Cds também farão parte da colecção.

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