sexta-feira, julho 8

Little idiot



O eco na minha cabeça e os outros a andarem de um lado para o outro como se todos soubessem para onde caminham.
E o eco na minha cabeça não me diz nada.
E penso em todas as camas em que dormimos e em todos os sítos por onde passamos e no nada que somos, e no tudo que queríamos ser.
E todos continuam a andar de um lado para o outro, em passadeiras que os deixam do outro lado da estrada. Em pontes que os levam para margens de outros rios.
E o eco na minha cabeça... Ouço as coisas que digo dia após dia, as mesmas. Penso nas coisas que faço dia após dia, rotina.
E o eco repete-se e continua a remoer-me os pensamentos e as entranhas. As mesmas rotinas e as mesmas pessoas e os mesmos lugares cravados de significado para outros, mas não para mim.
E as mãos que tocam nas campainhas para mandar parar o autocarro. As mãos de todos tocam ali e eu penso antes de juntar as minhas mãos àquele ritual de passagens, de impressões.
E o eco continua. O eco como uma mão que me agarra ao que sou e me afasta do que seria se a voz que me fala se calasse para dar lugar ao silêncio...

terça-feira, julho 5

Mentiras que levamos a sério

Há coisas em que temos que acreditar para que consigamos levantar o corpo da cama todas as manhas.

É preciso acreditar que a crise vai passar, mesmo quando as compras do supermercado são cada vez menos e o preço a pagar por elas cada vez mais alto.

É preciso acreditar que nós temos o rumo dos nossos dias na mão, mesmo sabendo que amanhã podemos ser despedidos e ficar os próximos seis meses, na melhor das hipóteses, à procura de um emprego.

É preciso acreditar que estamos a aprender com o que fazemos todos os dias, mesmo que ninguém valorize o esforço.

É preciso acreditar que ter 23 anos é um bom sinal apesar de ainda não termos nada na vida e mesmo que a sensação seja de que apesar de novos já somos uns falhados.

Não sei se acredito, mas preciso...