segunda-feira, maio 2

Coimbra





Dois anos passaram desde que saí de lá com a certeza de que ía manter aquela cidade no meu coração para toda a vida.
Agora estou em viagem constante. Passo lá frequentemente mas apenas como uma estranha. Sem laços nem âncoras que me prendam a ela, olho-a com uma sensação alheia de já ter estado ali de corpo e alma, como se numa outra vida.
Tenho tantas memórias que já não sei o que ganhar com elas. Não sei o que fazer delas. São minhas, são tuas, são nossas e de todos os que passaram pela minha vida durante aqueles quatro anos. Mas não passam disso. De memórias que vão ganhando pó com o passar dos dias, com o cumprir dos sonhos que na altura pareciam utopias de estudantes que têm a vida pela frente.
Não sei quem seria hoje se não tivesse passado por Coimbra. Aprendi tudo o que me permite hoje ser quem sou como profissional. E muito para além disso, consegui sentir a humildade de quem vence e perceber quando é altura de desistir, mesmo quando tudo cá dentro nos diz que devemos seguir em frente e passar por cima do que achamos correcto.
Coimbra não é apenas uma cidade, é uma maneira de estar na vida e nos dias. De aprender a ser adulto, sem deixar de fazer as loucuras que se fazem quando pensamos que não há amanhã.
Está à porta mais uma Queima das Fitas. Este ano, pela primeira vez, não vou fazer farte dos dias de festa. Sinto que não devo, porque uma coisa é estarmos lá durante o ano todo à espera que aquilo aconteça e outra é cairmos lá no meio daquilo tudo vindos de outra realidade.
Não há dias melhores do que aqueles. Uma grande família vestida de negro a comemorar qualquer coisa, a comemorar tudo e nada à beira rio até o dia amanhecer. E quando amanhece começa tudo outra vez... Mas para quem saiu de lá com a certeza de que fez tudo o que devia ter feito, com a certeza do dever cumprido, ir lá é como manchar um bocadinho das memórias que cá temos dentro. E não quero que isso aconteça. Quero mantê-las assim, com pó para eu soprar sempre que me apeteça abrir o álbum para recordar as caras e os lugares da cidade durante o tempo que lá estive.
Quero que elas fiquem velhinhas comigo e acreditar que Coimbra será sempre como quando eu lá estive. Sem mais...só assim: velhinha e mágica à beira do Mondego..

2 comentários:

Anónimo disse...

coimbra é simbionte do nosso coração. quem por lá passou, nunca poderia cortar o cordão umbilical que ela criou em nós. é assim com as "mães" do nosso destino e do nosso ser.
gostei do teu "post" porque nele ecoou a voz da minha memória.

B.L disse...

E quem está em Coimbra por vezes tem saudades dessas alturas em que, a cada esquina, se encontrava uma cara amiga, em que todos nós festejávamos... Este teu post também me tocou directamente, e, apesar de estar em coimbra, este ano também será o primeiro em que não participarei na festa do estudantes. É difícil aceitá-lo!