segunda-feira, abril 4

Rituais

Repetiu-se o ritual. Uma semana mais tarde chegou a Páscoa lá a casa. Já não há ovos de chocolate nem amêndoas nas prateleiras dos hipermercados, mas a aldeia anda atarefada a preparar a visita pascal. Limpam-se as ruas, coloca-se o alecrim à porta. Lá dentro a mesa está posta. Sobre ela uma toalha de linho, um bolo com cobertura branca a contrastar com a cor das amêndoa no prato mesmo ao lado. A garrafa de vinho do porto está lá também, para o caso de alguém querer beber alguma coisa.
Por muito remota que possa parecer esta tradição, ela continua a fazer parte da minha rotina na época pascal. E não me parece retrógada nem sem sentido, porque ela sempre fez parte de mim como eu dela. Junta-se a família, come-se à pressa e espera-se. Ouve-se o badalo a anunciar a chegada. A família ocupa as suas posições na sala e espera que o padre e a sua comítiva entrem pela casa e salpiquem paredes e pessoas com água benta.
O ritual não foi diferente dos outros anos. Apesar da mesa ter ficado intacta pois, com os seus 70 e tal anos, o pároco já não sobe os degraus para se poupar durante o percurso.
As pessoas são as mesmas mas estão mais velhas. A cruz que nos dão a beijar vem nas mãos do mesmo senhor de sempre, que antes me acarinhava a cabeça e dizia para os meus pais "que crescida que ela está" e que agora me cumprimenta com um sorriso e me pergunta como correm as coisas.
Parece que o tempo pára nessas alturas. Porque a realidade em que estamos inseridos todos os dias é muito diferente daquela. E por muito que tentemos encontrar semelhenças não conseguimos. As pessoas são muito diferentes, as relações entre elas também e o espírito dos lugares é quase oposto. Mas sentimo-nos mesmo parte daquilo tudo. E sentimo-nos priveligiados por estarmos ali...

3 comentários:

Bruno Oliveira disse...

Apesar de que a tradição já não é o que era, a visita Pascal faz sempre relembrar de quando erámos mais pequenos, mais traquinas e mais fascinantes. Nunca irei esquecer a visita Pascal da santa terrinha Monsanto.......espero estar lá para o ano com a minha verdadeira família, tia, tio, prima, pai,mãe, mano, cunhada e sobrinhito:).
Os Rituais são para manter pois são a base da nossa identidade, da nossa cultura.... muito já se perdeu, agora se perdermos o nosso Património afinal de contas deixamos de ser portugueses.

Anónimo disse...

Confesso que há já algum tempo que não li esta página. E a verdade é que já sentia a falta de ler algo escrito por ti.
Não haja dúvida que a vida muda, que nós próprios mudamos mas as nossas tradições, os nossos hábitos de sempre esses não podem mudar nunca. Fazem parte de nós e só com eles nos sentimos completos.
Tina.

Anónimo disse...

Confesso que há já algum tempo que não li esta página. E a verdade é que já sentia a falta de ler algo escrito por ti.
Não haja dúvida que a vida muda, que nós próprios mudamos mas as nossas tradições, os nossos hábitos de sempre esses não podem mudar nunca. Fazem parte de nós e só com eles nos sentimos completos.
Tina.