quarta-feira, fevereiro 25

Para a T.



Hoje vou escrever sobre a minha melhor amiga... A T. está comigo há muito tempo, conhecemo-nos quando éramos miudas, ela sempre muito à frente, acabadinha de chegar de França tinha uma popularidade astronómica na Escola Secundária de Vouzela. Eu ainda andava a perceber com quem haveria de me relacionar. No 10º ano fomos parar a uma turma que nenhum professor queria ter. Era uma mistura daqueles que queriam mesmo seguir letras, dos que não tinham conseguido ir para ciências porque detestavam matemática e daqueles que não sabiam o que queriam mas lá andavam por pressão dos pais. Éramos 30 e tal...
Sempre que podíamos dividiamos carteiras, ela ajudava-me com o francês, mas os verbos davam cabo de mim e fartávmo-nos de falar em todas as aulas.
Quando pensei que o homem da minha vida era o professor de história ela entrou na minha loucura e guardou o momento tirando-me uma fotografia, qual pose de modelo, junto ao carro dele. Ficávamos as duas nas escadas do pavilhão D a vê-lo passar. Partilhávamos basicamente tudo, ela sabia tudo de mim, mais do que eu mesma talvez, eu sabia tudo dela. Tínhamos um grupo de amigos como nunca terei...estávamos ali para tudo, no matter what.

No 12º ano dava-se a separação. Eu teimava em não querer ir para Coimbra, mas a Filosofia estragou-me o esquema e lá fui eu com a T., o P. e a C. Foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido. Dividimos a mesma casa, na Conchada com uma varanda gigante virada para o Mondego. Durante 4 anos aquela casa foi o nosso abrigo. O P. tinha a mania de trazer coisas que encontrava largadas na rua para casa e tinhamos umas peças de design bem jeitosas. O nosso senhorio era o Rolando. Coitado... uma vez ralhámos tanto com ele por causa da conta da electricidade que ele quase chorou! Não sei se chegámos a pagar aquela conta...

Foram os melhores anos da minha vida.
Alugávamos montes de filmes no clube de vido do Avenida, com um senhor obeso por detrás do balcão a recomendar-nos romances que nos deixavam de rastos ao final da noite.
Éramos viciadas no Bingo da Académica. Quantas vezes saímos de casa à meia noite só para jogar um cartão. Uma vez arranquei-a da cama para ir ao DD, ela tirou o pijama, vestiu-se e foi! Chegávamos do DD e íamos direitinhas à cozinha fazer o resumo da noite e comer torradas com doce às 5 da manhã!
Fizemos a viagem Viseu-Coimbra vezes sem conta, com sol, com chuva, com aquele nevoeiro que nos apanhava sempre nas Talhadas. A viagem de regresso servia sempre para partilhar os sms trocados com os amores perdidos e a evolução das relações durante o fim-de-semana...

Sofremos juntas, rimos juntas, partilhámos um primeiro beijo juntas (cada uma com o seu par entenda-se) na mesma discoteca completamente vazia e fomos para casa a pé ás tantas da noite, sozinhas, só para podermos prolongar aquele momento.

No dia em que empacotei todas as minhas coisas para partir para outras paragens o carro dela, que ela me tinha emprestado, avariou a descer a nossa rua. Era provavelmente um sinal de que não deveria ter saído dali tão cedo...

Amigos como a T. são únicos e encontram-se uma vez na vida. São aqueles com quem podemos estar sem falar durante meses mas que sabemos que estão sempre em nós, como uma parte adormecida que aordamos quando precisamos de um ombro.
Estou há 5 anos em Lisboa e ainda não econtrei ninguem como ela. Nunca mais vou encontrar ninguém assim, tenho a certeza. Preciso de lhe pedir desculpa porque poderia estar mais presente na vida dela, mas enfim... por mil motivos e por nenhum não estou.

Mas ela sabe que está tudo na mesma... Faz de conta que hoje vamos rir outra vez a comer torradas às 5 da manhã, depois de termos festejado o teu aniversário...

3 comentários:

Cristina disse...

Que lindas memorias as nossas...que saudades de tudo e especialmente de ti.Nao é justo estarmos longe das pessoas que mais amamos, mas a vida é mesmo assim.Sinto a tua falta mana...Adoro-te como sempre e para sempre****

cegueira disse...

Acho que isto de estar perto dos 30faz-nos pensar naquilo que é mesmo importante para nós...Também sinto muito a tua falta***

Maariah disse...

Sinto-me a invadir um espaço alheio, um post tão íntimo, mas fez-me lembrar os meus tempos de colégio, os meus amigos de então que se mantém até hoje. É provavél que não encontres ninguém como essa tua amiga mas essa amiga estará sempre lá.