sábado, abril 23
Aldeia da Pena
Para muitos seria impensável viver num sítio como este. Escondidos entre montes e quase inacessíveis vivem os 11 habitantes da Aldeia da Pena, na Serra de São Macário no concelho de São Pedro do Sul.
Quando se vai ali pela primeira vez fica-se com a sensação que o tempo não passou. Para aquelas pessoas, certamente que o tempo tem um andamento diferente. Para que servem os relógios se não há autocarros nem metro para apanhar, se não há horas de ponta a evitar?
Ao mesmo tempo, sentimos que nada de mal poderá acontecer aos que ali passam os seus dias. O sol nasce e poe-se, dia após dia, mas acredito que lá no fundo da serra, as 11 pessoas não o vejam ou o sintam todos os dias. Tal é o nevoeiro cerrado que por vezes se levanta por aquelas paragens, quem não conhecer a zona e passar na estrada apertada no topo do monte, nem se dá conta que ali, alguns metros abaixo, onde acaba o penhasco, há vidas humana.
Quando se vai lá uma, duas, três vezes ficamos atentos às mudanças. Agora ja há um café, os visitantes recebem um cartão com os serviços da "casa", almoços e jantares com especialidades como o cabrito assado, provavelmente dos criados mesmo ali, naquelas pastagens cheias de carqueija. Alguém se lembrou de que o artesanato poderia dar dinheiro e toca a fazer casinhas de xisto, tal e qual as da aldeia. De resto de todas as vezes que lá voltamos saímos com a certeza de que não há no mundo lugar tão pacífico.
Pergunto-me o que acontece àquelas 11 almas quando adoecem e precisam de um médico.
Pergunto-me quantas vezes saem dali e para fazer o que?
Pergunto-me se precisam realmente de sair dali...
Acredito que quando se vive muito tempo num lugar como aquele, não se sente necessidade de ir a mais lado nenhum.
Não posso dizer o que vai na alma daquelas pessoas e porque insistem em ficar ali, mas o olhar de um cão rafeiro que por ali se passeava era de um tristeza infinita....
terça-feira, abril 12
segunda-feira, abril 4
Rituais
Repetiu-se o ritual. Uma semana mais tarde chegou a Páscoa lá a casa. Já não há ovos de chocolate nem amêndoas nas prateleiras dos hipermercados, mas a aldeia anda atarefada a preparar a visita pascal. Limpam-se as ruas, coloca-se o alecrim à porta. Lá dentro a mesa está posta. Sobre ela uma toalha de linho, um bolo com cobertura branca a contrastar com a cor das amêndoa no prato mesmo ao lado. A garrafa de vinho do porto está lá também, para o caso de alguém querer beber alguma coisa.
Por muito remota que possa parecer esta tradição, ela continua a fazer parte da minha rotina na época pascal. E não me parece retrógada nem sem sentido, porque ela sempre fez parte de mim como eu dela. Junta-se a família, come-se à pressa e espera-se. Ouve-se o badalo a anunciar a chegada. A família ocupa as suas posições na sala e espera que o padre e a sua comítiva entrem pela casa e salpiquem paredes e pessoas com água benta.
O ritual não foi diferente dos outros anos. Apesar da mesa ter ficado intacta pois, com os seus 70 e tal anos, o pároco já não sobe os degraus para se poupar durante o percurso.
As pessoas são as mesmas mas estão mais velhas. A cruz que nos dão a beijar vem nas mãos do mesmo senhor de sempre, que antes me acarinhava a cabeça e dizia para os meus pais "que crescida que ela está" e que agora me cumprimenta com um sorriso e me pergunta como correm as coisas.
Parece que o tempo pára nessas alturas. Porque a realidade em que estamos inseridos todos os dias é muito diferente daquela. E por muito que tentemos encontrar semelhenças não conseguimos. As pessoas são muito diferentes, as relações entre elas também e o espírito dos lugares é quase oposto. Mas sentimo-nos mesmo parte daquilo tudo. E sentimo-nos priveligiados por estarmos ali...
Por muito remota que possa parecer esta tradição, ela continua a fazer parte da minha rotina na época pascal. E não me parece retrógada nem sem sentido, porque ela sempre fez parte de mim como eu dela. Junta-se a família, come-se à pressa e espera-se. Ouve-se o badalo a anunciar a chegada. A família ocupa as suas posições na sala e espera que o padre e a sua comítiva entrem pela casa e salpiquem paredes e pessoas com água benta.
O ritual não foi diferente dos outros anos. Apesar da mesa ter ficado intacta pois, com os seus 70 e tal anos, o pároco já não sobe os degraus para se poupar durante o percurso.
As pessoas são as mesmas mas estão mais velhas. A cruz que nos dão a beijar vem nas mãos do mesmo senhor de sempre, que antes me acarinhava a cabeça e dizia para os meus pais "que crescida que ela está" e que agora me cumprimenta com um sorriso e me pergunta como correm as coisas.
Parece que o tempo pára nessas alturas. Porque a realidade em que estamos inseridos todos os dias é muito diferente daquela. E por muito que tentemos encontrar semelhenças não conseguimos. As pessoas são muito diferentes, as relações entre elas também e o espírito dos lugares é quase oposto. Mas sentimo-nos mesmo parte daquilo tudo. E sentimo-nos priveligiados por estarmos ali...
domingo, abril 3
os dias acabam amanha
parecem pequenas alucinações.
pequenos flashes de qq coisa que me assalta a cabeça.
sinto aquele formigueiro no corpo, aquela vontade de fazer. Mais. Aquela certeza momentânea de que se fizer algo, será algo bom.
Micro-explosões de inspiração, de leveza, de expontaniedade.
E tão depressa surgem como desaparecem.
Passo os minutos seguintes a tentar aperceber-me do que realmente estava a pensar. Passo a hora seguinte a tentar reaver esse momento.
Como se os ponteiros de todos os meus relógios interiores se tivessem alinhado e um canal qualquer especial estivesse sintonizado. Mas apenas apanho estática.
Penso que mais alguns dias assim e a sintonização poderia ser amplamente afinada.
Mas os dias acabam amanha.
E assim correm as horas.
Um fantasma como uma sombra, que me segue vagaroso, à espera de vez.
Como um animal de estimação que é deixado para segundo plano.
A inspiração, o verdadeiro prazer de fazer algo de mim para mim, andou por aqui.
Talvez te veja de novo.
Em breve.
Porque os dias acabam amanha.
pequenos flashes de qq coisa que me assalta a cabeça.
sinto aquele formigueiro no corpo, aquela vontade de fazer. Mais. Aquela certeza momentânea de que se fizer algo, será algo bom.
Micro-explosões de inspiração, de leveza, de expontaniedade.
E tão depressa surgem como desaparecem.
Passo os minutos seguintes a tentar aperceber-me do que realmente estava a pensar. Passo a hora seguinte a tentar reaver esse momento.
Como se os ponteiros de todos os meus relógios interiores se tivessem alinhado e um canal qualquer especial estivesse sintonizado. Mas apenas apanho estática.
Penso que mais alguns dias assim e a sintonização poderia ser amplamente afinada.
Mas os dias acabam amanha.
E assim correm as horas.
Um fantasma como uma sombra, que me segue vagaroso, à espera de vez.
Como um animal de estimação que é deixado para segundo plano.
A inspiração, o verdadeiro prazer de fazer algo de mim para mim, andou por aqui.
Talvez te veja de novo.
Em breve.
Porque os dias acabam amanha.
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