quinta-feira, setembro 27

Aos 25 anos

Estacionei o carro no único lugar que havia na rua.
Fui comprar uma coisa qualquer que já não me lembro no restaurate ao lado de casa.
Espremi duas laranjas e engoli aquilo tudo já sem fome nem vontade para comer.
Lavei um prato, um copo, um garfo, uma faca, o espremedor de laranjas e a caneca do pequeno almoço.
Fui despejar o lixo, abri a caixa do correio, espreitei o folheto do MediaMarkt, estava em promoção uma máquina de lavar roupa igual a minha, mas mais cara.
Tomei banho. Vesti o pijama. Sequei o cabelo à pressa. Tirei o verniz das unhas. Sentei-me no sofá com o portátil em cima das pernas. Tenho que adiantar trabalho para amanhã.

quarta-feira, setembro 12

Falta-me um bocadinho assim

Hoje consegui ter um tempinho para me organzizar e prever o que aí vem nos próximos meses, o resultado foi um calendários cheio de cores e coisas para fazer até ao Natal. Enquanto não chega a avalanche de stress vou aproveitando a liberdade de tempo e de espaço, ou seja da minha casinha.
Ainda não tinha tido oportunidade de dizer que viver sozinho e ter uma casa só nossa é mudar de vida, completamente. Apetece-nos sempre ter tudo arrumado, cozinhar todos os dias coisas novas, mesmo que a fome não seja muita e acabe por ficar tudo no frigorífico para o dia a seguir. Apetece-nos estar em casa a ouvir musica passar horas no sofá a ver babuseiras na TV.
Só há uma coisa negativa no meio disto tudo que é o dia em que pagamos a renda e em que abrimos a caixa do correio e vemos as contas da água, luz e gás no nosso nome. Mas tirando isso, estou no paraíso. E a sensação de estarmos por nossa conta é o melhor que pode haver.
Quando era piquena e sonhadora imaginava-me aos 22 uma mulher de sucesso, com casa, carro, dinheiro, independente, uma relação estável a caminhar para o casamento. Depois de ter percebido que aos 22 somos umas nulidades, cheios de incertezas, a mendigar emprego ou a trabalhar a borla, a semanas de fazer 26 posso dizer que ando lá perto, só me falta um bocadinho assim que virá certamente com a maturidade....

segunda-feira, setembro 3

Delicate*




Ali ao fundo, no reflexo dos raios de sol naquela água salgada estão todos os meus fantasmas, que se escondem quando os engano ao quebrar a rotina, mas que voltam a assombrar-me quando o dia-a-dia se torna um fardo pesado de carregar.
Ali estão todos os nossos sonhos que vão sendo adiados, que vamos deixando para segundo plano porque não temos tempo para nos lembrarmos deles.
E eu queria ter a certeza de que não estou a perder tempo, tenho medo de não conseguir perceber suficientemente os meus motivos, de não saber julgar o que deve ou não ser feito, se devo continuar ou não. Tenho medo de me deixar arrastar e acordar um dia, olhar para trás e perceber que não construí nada, que me enganei a mim mesma, que não fui capaz de virar à direita ou à esquerda e preferi seguir em frente, pelo caminho mais fácil.
Como é que se têm certezas?
Devo estar a passar pela crise dos quase 26 anos, começamos a olhar para trás e a querer outras coisas para nós agora... pessoas que nos amem incondicionalmente, que nos compreendam em vez de nos julgarem, que nos completem em vez de nos deixarem sem rumo a apanhar as peças que vão deixando espalhadas. Eu tento encontrar um sentido, tento fazer um puzzle com todas as peças, mas no final não consigo perceber se estão bem colocadas. Porque não basta encaixar bem as peças, é preciso encontrar um significado naquilo que construímos com elas.
Apetecia-me pegar no carro e conduzir sem rumo a noite toda com a música a ensurdecer-me os ouvidos. Sinto-me aliviada quando o faço, quando conduzo perdida em mil pensamentos, distraída pelas vozes que me fazem companhia e me gritam aos ouvidos palavras sem nexo.
Não fosse tão tarde e era isso que eu fazia, partia para o desconhecido.

E a banda sonora assenta que nem uma luva...

We might live like never before
When there's nothing to give
Well how can we ask for more
We might make love in some sacred place
The look on your face is delicate

So why'd you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place that you've known
And why'd you sing Hallelujah
If it means nothing to you
Why'd you sing with me at all?


*Delicate, Damien Rice