quinta-feira, março 31

Standing still


Pus o cansaço a marinar num banho morno de espuma...

segunda-feira, março 28

Ghosts of the great highway that's life




Quando era pequena fascinava-me visitar as pessoas em casa. Ver como é que ditribuíam os móveis e objectos, como é que davam vida às paredes. Não me tornei decoradora, nem pouco mais ou menos, apesar de ter a mania das mudanças e de não suportar ter o meu quarto, por exemplo, sempre da mesma maneira. Mesmo que os objectos sejam os mesmos todos os dias, têm que ser mudados de sítio para parecerem outros e para eu própria me sentir num sítio diferente.
Quando era mais pequena não percebia como é que as pessoas eram capazes de se desligarem de um sítio e partirem para outro, como se nunca por ali tivessem passado, levando mobílias e pertences encaixotados num camião. Muitas vezes deixando tudo para trás. Faz parte de nós aquilo que vamos acumulando. Todos os objectos têm uma história. Assim como as paredes das casas vão acumulando histórias e momentos que nunca poderão ser contados e só são sentidos e lembrados por quem ali passou.
Já vivi em duas casas diferentes às quais nunca chamei lar. Não sei quem nelas viveu antes de mim e quem virá depois de eu sair. Mas posso chamar de lar a uma casa que vi crescer, devagar. E que cresceu comigo e à medida dos sonhos dos meus pais. Quando era pequena pensava que nunca ía sair dali, que era ali que eu me sentia protegida porque tudo ali era meu, nosso. Hoje, apesar de viver mais num prédio de muitos que pouco me diz, sempre que volto para casa reencontro o conforto do sofá e da lareira. Ali estão todos os objectos que fizeram de mim quem hoje sou: as bonecas, os diários de adolescente, os livros, as fotografias... E hoje ainda me custa perceber como é que há pessoas que se desligam tão facilmente do que têm. Sem verdadeiras. Sem lar. Vivem de lugares comuns e sem um espaço próprio e único ao qual possam chamar seu.

quinta-feira, março 24

O meu amor existe

O meu amor tem lábios de silêncio
e mãos de bailarina
e voa como o vento
e abraça-me onde a solidão termina....

Joge Palma

quarta-feira, março 23

terça-feira, março 22

Elements of loneliness

Há sempre várias opções e caminhos à nossa escolha.
Estão ali à nossa frente, à nossa volta, à espera que um dia troquemos o passo e mudemos de rumo.
Mas, por uma razão ou por outra não o fazemos.
Temos músculos, mas falta-nos a força.
Temos vontade, mas falta-nos a coragem.
E dia após dia, tentamos controlar a febre com paninhos quentes.
A temperatura baixa durante o dia e conseguimos respirar, por algumas horas.
Durante a noite assaltam-nos pesadelos e os fantasmas. A febre explode em extase e depois há só silêncio. Ficamos calmos como um cão ferido na berma da estrada, à espera que alguém páre e nos leve para casa. Nos cuide dos ferimentos. Nos dê carinho. E qualquer coisa para a febre...
Temos músculos, mas falta-nos a força.
Temos vontade, mas falta-nos a coragem.

sábado, março 19

Lisboa - Viseu

Eu gosto de Tunas. Como uma ex-estudante de Coimbra, só podia gostar. Naquela ciadade, das duas uma: ou se gosta mesmo das tradições académicas ou se passam quatro anos a remar contra a maré. Mas não é dificil ficarmos apaixonados pela cidade. Adiante que o post não é sobre Coimbra.
Servem as linhas acima para demonstar a minha revolta em relação ao transporte de Tunas em transportes públicos. Quer dizer, é sexta feira, uma pessoa está cansada da semana de trabalho, quer paz e descanso e chegar a casa sossegada. E sossego foi coisa que eu não tive ontem quando uma Tuna resolveu invadir o Expresso Lisboa - Viseu em que eu costumo viajar de 15 em 15 dias.
Tudo correu bem enquanto eles se instalaram e puseram a conversa em dia. Ouvia a minha musiquinha, lia o meu livrinho e as quatro horas iam-se passando. Isto, até alguém se lembrar de começar a tocar flauta, depois viola, depois alguém começou a cantar... E vai daí estava o autocarro todo sorridente a ouvir os meninos vestidos de preto e branco a cantarem o "tiro-liro-liro" e "indo eu indo eu a caminho de Viseu". Haverá coisa mais desagradável do que isto??? Para além de ter que ouvir piadinhas sobre o sotaque de Viseu, as rotundas de Viseu, as estradas de Viseu...enfim!
Ainda ponderei pedir-lhes para se conterem, mas para além de serem mais do que as mães e ocuparem uma metade do autocarro, a outra metade estava a gostar do que ouvia.
Reduzi-me à minha insignificância e aturei-os até Viseu...mas continuo a achar que alguém devia impedir manifestações do género em transportes públicos!!

quarta-feira, março 16

little things

Há coisas que nos distinguem uns dos outros e nos tornam únicos e especiais, para o bem ou para o mal. Estas são as little things que me caracterizam...

Pensar na roupa que vou vestir na manhã seguinte antes de adormecer. Caso contrário é certo que já saio de casa atrasada para o que quer que seja.

É tiro e queda. Quando entro numa loja e vejo uma peça de roupa que gosto inclino sempre para a versão cor-de-rosa. Por causa disso há pouco tempo proibi-me de comprar roupa cor-de-rosa.

Música é indispensável ao adormecer e ao acordar. Sendo que a primeira coisa que faço ao chegar a casa é ligar a aparelhagem.

Tenho a mania de deixar as gavetas e as portas dos armários abertas. Seja o que for que tire de uma gaveta ou de uma porta é certo que ficam abertas. Só quando passo por elas uma segunda vez é que as fecho.

Devoro livros nas viagens que faço de Expresso. Posso estar 15 dias sem pegar num livro mas basta-me uma viagenzita Lisboa-Viseu e vice versa para esgotar com as prateleiras de qualquer biblioteca.

Tenho a mania de contar as coisas e no final dizer "conclusão" e resumir o que disse. Não sei porque o faço mas nem me dou conta disso, só depois de já o ter dito.

Guardo todos os bilhetes de cinema e anoto atrás o nomes das pessoas com quem assisti ao filme (não imaginam os bilhetes que andam aqui por casa).

Não consigo estar num sítio durante muito tempo. Por exemplo, posso ir tomar café a algum lado, mas quando acabo o café quero vir embora e prefiro continuar a conversa noutro lado.

Não consigo estar em casa sem fazer nada. Tenho sempre que estar a arrumar qualquer coisa, a escrever, a ler, a comer...o que for, mas parada é que não.

sexta-feira, março 11

head in hand

no outro dia (um lugar comum) ia a segurar a cabeça num dos lugares traseiros do expresso Lisboa - Caldas quando me apercebi de que perdi a coragem de fazer coisas.
a vontade.
a imaginação para as conceber.
talvez ainda exista em mim isso tudo, sim, mas está dormente.
porque preciso trabalhar, porque preciso arrumar os dias, porque tenho de preparar o futuro, porque tenho tantas preocupações e datas para cumprir.
cada segundo parado é uma dádiva que não posso desperdiçar.
e os segundos correm, têm mais pernas que eu, que já não posso com eles.

parece que só seguro as coisas nas mãos tempo suficiente para lhes tocar e depois desaparecem numa neblina de pensamentos rápidos.
e perdem-se por ai.
havia provavelmente tanto por dizer e fazer, construir, revelar.
escrevo estas palavras num amor platónico às ideias que passaram ao lado.


e agora?

terça-feira, março 1

Desabafo

Gostamos do que fazemos. Esforçamo-nos para que isso transpareça nos temas que escolhemos para os nossos artigos e nas palavras que seleccionamos para os nossos textos. Ainda assim, dia após dia, é só a vontade e o gosto de fazer que nos levanta da cama todas as manhãs. Ninguém reconhece o bom e o mau do que fazemos. E mesmo na altura de compensar o trabalho, ao fim do mês, tentam iludir-nos com histórias para nos pagarem menos do que realmente merecemos.
Um ano e meio depois eis que cheguei a uma altura em que já não consigo acordar todos os dias por gosto. E ainda assim não sei o que posso fazer para que situação mude. Parece que estão todos preocupados demais com as políticas de merda neste país. Só se fala nisso, só se escreve sobre isso, só se valoriza isso.
Depois, à custa disso, uns são filhos e outros enteados. Uns são convidados e outros penduras. Ums são contratados e outros são trabalhadores por contra prórpia forçados. Uns são pagos e outros são explorados. Uns têm mais do que um emprego e ganham bem nos dois e outros não conseguem sequer pagar as contas.
Os cinco anos que se passam numa universidade a pensar que vão servir-nos para construir certezas no futuro não servem de nada. Lutamos todos os dias para que tenhamos uma situação melhor, estável pelo menos, e quando pensamos estar perto de o conseguir, recuamos dois passos. Um para a frente e dois para trás... E vamos seguindo na esperança de que um dia alguém olhe para nós e nos puxe para o grupo dos filhos. No grupo dos que fazem parte do grupo. Dos que não fazem assim tanto, mas ganham mais dos que enteados... Afinal, são filhos da casa... Seja lá o que isso for... Eu ainda sou enteada.